segunda-feira, 27 de junho de 2011

De kimono no Mt. Fuji

O Monte Fuji mexe com o imaginário. Quem nunca quis chegar perto do principal cartão postal do Japão? É bem perto de Tóquio, apenas duas horas de ônibus. No caminho, a paisagem muda completamente. O concreto dá lugar aos campos de arroz. São pequenas plantações, espalhadas por quilômetros e quilômetros. Parecem os jardins das casas, no interior do Japão.

Na região do Fuji-san, como é chamado no Japão, há cinco lagos, eu fiquei no Kawaguchi, o maior deles, este da foto acima.
Pra quem não sabe, o Fuji é um vulcão adormecido. A temporada de escalada só começa na semana que vem, dia 1 de julho. Isto significa que algumas das casinhas que ficam pelo caminho e as pequenas pousadas lá em cima estão fechadas, mas mesmo assim vi várias pessoas, a maioria profissionais, escalando, já que nada impede a passagem de quem quer se aventurar. É por sua conta e risco!
Eu subi um pouco, cerca de duas horas, e a primeira impressão é de que o caminho é tranquilo, largo. Pura ilusão. Aos poucos, a trilha começa a estreitar, a ventania fica intensa, e aí eu entendi o porque os "aventureiros" carregavam tanto equipamento. Eu estava despreparada. Tênis de corrida, malha fina e nem sequer um sanduíche. Afinal, me disseram que a trilha estava fechada e fui subindo, de curiosa mesmo.
 Aqui começou a apertar!

Pra chegar até o topo são, em média, seis horas e muitas pessoas passam a noite nas pousadas, espalhadas pela montanha. Quem sabe em agosto!


Estas são as casinhas pelo caminho, algumas são pousadas, outras vendem bebida e comida, mas estavam todas fora de serviço.

Estes são alguns dos aventureiros. Aproveitaram que uma das casas estava aberta para improvisar o almoço.

Esse maluco eu encontrei quase na base do Monte Fuji. Fiquei me perguntando: "De onde surgiu esse maratonista?"
Mas vamos ao ponto alto da viagem, a experiência de dormir num hotel que eu nunca tinha visto antes. Nada de cama, escrivaninha, internet e mesa pra computador. Resolvi me instalar num Ryokan, hotéis que ainda mantêm o chamado "estilo japonês". Os quartos, na verdade, são um grande tatame.  
 

Um detalhe: o lustre do quarto

Esta é a cadeira, própria para o tatame.
Antes de explicar melhor esse quarto japonês, vamos aos detalhes. Os hóspedes recebem kimonos para usar dentro e fora do quarto. É super comum no Japão, mesmo em hotéis convencionais, como já comentei no post “O paraíso nipônico”.
O lazer aqui é entrar no onsen (banho em águas termais) para relaxar o corpo e a mente. Sem roupa mesmo, os japoneses acreditam que não pode haver nada entre a água quente e o corpo. Claro, os homens ficam separados das mulheres.
Como não havia ninguém neste horário, tirei algumas fotos.

A temperatura da água chega a 40ºC. Do lado direito da foto são os chuveiros individuais com seus respectivos banquinhos e cosméticos,tudo bem prático para não se cansar. A ordem é primeiro se lavar, pra depois entrar na "piscina" de pedras.
 
E pra refrescar, um belo ofurô de água mineral do Monte Fuji gelada.

Para finalizar o tratamento, todos os apetrechos estão a disposição.
Agora, prepare o estômago. No horário programado, uma funcionária do hotel vestida com um kimono especial, pede licença e entra no tatame com um verdadeiro banquete. Isso mesmo, a refeição é servida no quarto. São quatro jantares completos, servidos em diversas porçõezinhas. Tem sashimi, carne especial, saladas típicas, sopas e mais um monte de iguarias que eu nem sei o que eram. Chega a ser um exagero porque realmente não parava de chegar comida, e o pior, quer dizer, o melhor, todas deliciosas!  


Esta sou eu feliz, antes de começar a "pequena" refeição
Este não é o final ! Falta um belo prato de sushi, a sobremesa e o chazinho! Mesmo no limite, como desperdiçar? 
Depois do jantar, surge outro funcionário do hotel para retirar a mesa do tatame e preparar a "cama". Ele coloca um futon e um edredon macio. Era tudo o que faltava!

 Depois de tanto comer, quer mais o quê?
Foram quatro dias na região. No último, uma bela surpresa. Finalmente, ele apareceu para se despedir sem nenhuma nuvem no topo. Não podia ser mais bonito! 


domingo, 19 de junho de 2011

A minha Tóquio !


Tóquio é uma cidade engraçada, uma metrópole que pode ser pacata! Às vezes tenho a sensação que estou numa cidade de interior, onde todos se conhecem.
Hoje, eu me sinto a pessoa mais popular da vizinhança. É verdade que os japoneses são muito fechados, mas desde que comecei a arriscar umas frases em nihongo (japonês), o “pessoal” da rua resolveu interagir comigo. Em cada esquina é um tchauzinho pra cá, um “konnitchiwa” (boa tarde) pra lá, sorrisos e, claro, todos se curvando levemente, como manda a tradição local.
Agora você vai conhecer a galera “TOP Five” da Mita GoChoome, o meu quarteirão. Todos os nomes são fictícios. Essa coisa de decorar nome em japonês é mais complicada do que parece.
No primeiro lugar da lista, Sr. Miyagui. É esse senhorzinho simpático, dono da loja de sakê. Dia e noite, ele está lá, esperando os clientes e regando as plantas da frente da loja, mesmo debaixo de chuva. E como gosta de bater papo, ainda que eu entenda 10% do que ele diz (nessas horas, nada como um sorriso pra disfarçar). Por trás dessa típica figura oriental existe um aventureiro. Olha a foto do quadro abaixo! É o Sr. Myagui na estrada com a sua maior paixão: uma moto BMW 1000 cilindradas. Reza a lenda que, nos fundos da loja, ele pratica alguma arte marcial secreta. Eu desconfio que ele seja a verdadeira inspiração para o criador do filme Karetê Kid.


A moto fica dentro da loja, devidamente coberta.
O dia inteiro é assim, cuidando das sua plantas

Aos poucos ele vai revelando a sua personalidade. Vaidoso, foi só pedir uma foto e ele foi se arrumar!

A segunda personalidade é a Sra. Mashta, gerente de um restaurante tradicional de sushi, nomeado de “preferido”. Lá o atendimento é impecável, hoje já chego e digo “o de sempre, por favor” e o meu pedido vem com os peixes que gosto e pouco wasabi (raiz forte). A Sra. Mashta tem uma mania engraçada, que lhe rendeu esse nome. Para agradecer os clientes na hora do pagamento, ela pronuncia um sonoro “arigatou gozaimashhhhhta”, que seria algo como “obrigada por ter vinnnnndo”. Ninguém arrasta essa última sílaba como ela... já rendeu boas risadas.

Tem também a tiazinha da lavanderia, ela ocupa o terceiro lugar. Essa já sabe o meu nome desde o primeiro dia em que levei uma muda de roupas sujas. Quando chego, ela, rapidamente, digita meus dados e me entrega o recibo. É tão eficiente que eu não precisaria falar uma palavra sequer. Mas, cada vez que arrisco o meu nihongo (japonês), ela abre um sorriso. Quando pedi pra tirar uma foto então, ficou radiante, orgulhosa da minha evolução.

A "tiazinha" é a da direita

Esta é a fachada da lavanderia
Ocupando a 4ª posição, o Zé da Combini (loja de conveniência). A história dele é de uma gafe que eu cometi. Um dia ele me perguntou "há quanto tempo você estuda japonês?”. Eu me confundi e respondi dois anos, achando que ele havia perguntado por quanto tempo eu ficaria no Japão. Depois percebi o erro e hoje fico envergonhanda toda vez que entro na Combini, afinal ele deve imaginar "essa imbecil estuda há dois anos e gagueja pra pedir um suco". Pior é que eu nem sei como explicar pra ele, em japonês, que houve um mal entendido.

Não preciso dizer que tive vergonha de pedir uma foto. Tirei escondido.
O último da lista é o “Ranzinza San”, dono de uma quitanda. Imagine um homem emburrado, em quatro meses nunca mudou essa cara fechada. Mas não é difícil entender o porquê. O cara trabalha, sem descanso, todos os dias, inclusive aos domingos, das 8 da manhã até 11 da noite...sozinho! Minha versão fantasiosa é que o "Ranzinza San" herdou esta loja da família e, em tempos de crise, prefere não contratar ninguém para aumentar os lucros. Apesar de ser rabugento, ele já me conhece e faz parte do meu dia-a-dia. Merece entrar na lista!

Esta foto também não pedi.
Sabia que possivelmente iria receber um "não".

Fachada da quitanda do "Ranzinza San"
Essa é a minha Tóquio ! Bem diferente da metrópole maluca que eu imaginava antes de vir pra cá!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Aula de futebol no Japão

Famílias com crianças, bicicletas, pessoas comportadas. É um domingo de sol no Japão. É dia de jogo e nem sinal de flanelinhas, cambistas, ambulantes e, o principal, brigas nas imediações do estádio.

Torcedores vestem a camisa do time sem medo.

Para quem vai de bicicleta, o estacionamento é gratuito e praticamente dentro do estádio.

O duelo é Kashiwa Reysol X Vegalta Sendai  pela Copa Nabisco, equivalente à Copa do Brasil.
Kashiwa tem o técnico brasileiro, Nelsinho Batista, e outros 3 jogadores brasileiros, sendo um deles o recém chegado e a aposta do time, Jorge Wagner (ex- São Paulo), ou melhor, JorgÊ WaguenerÊ, como ele é chamado pela torcida! É o time líder da J-League, o campeonato japonês.
Vegalta Sendai, representa a região do epicentro do terremoto de 11 de março. O time não é lá dos mais fortes, mas depois da tragédia é um exemplo de raça e vontade de vitória. Querem erguer o nome da cidade e já estão no 2º lugar na J-league. A torcida está no clima! Não para de cantar um minuto!
O estádio comporta um público pequeno, mas quem senta na primeira fila fica a poucos metros do campo, separado apenas por uma pequena grade. E nunca há invasões.
Antes da partida começar, o líder da torcida dos donos da casa (Kashiwa Reysol) pega um megafone e começa a fazer piadas. O estádio inteiro dá risada, até a torcida adversária. Eu também ri, mas não entendi UMA palavra!
Bola rooolaaaando em Kashiwa!!! A galera nas arquibancadas não para: “Kashiwa Reysoool, Kashiwa Reysoool”, “Let’s - go – Sendai!”.
A bandeira do Brasil emociona e mostra o respeito e carinho da torcida com os nossos craques!
Detalhe para a despreocupação de uma torcedora com a bolsa, isso não é absurdo por aqui!
Agora preste atenção nestas fotos:
Ficaria surpreso se eu dissesse que são do final do jogo e que o time da casa perdeu: 0x1 Vegalta Sendai !
As equipes se cumprimentam no começo e final da partida. Não importa o resultado, agradecem a todos os lados da torcida. Se ganhar, distribuem balas para a arquibancada! Perdendo, recebem os aplausos mesmo assim! E se curvam aos torcedores em sinal de respeito.
Fim de jogo. Será que precisa de gari por aqui?

Cada um leva o seu lixo.
A saída dos jogadores é assim: a torcida está lá, à espera de um autógrafo, um “oi”, uma foto, ou para mostrar uma graça.
Jorge Wagner, agora ídolo do Kashiwa Reysol. 
Este maluco é o mascote da torcida, figurinha carimbada

Mesmo na derrota os jogadores recebem apoio. Xingamentos por aqui nem pensar.

Quem disse que o Brasil não tem nada a aprender com o futebol do Japão ?!?!