sábado, 27 de agosto de 2011

"Sinta-se em casa"


Sufoco! é muita gente para pouco espaço.

Animador, né?  
Imagine encarar isso todos os dias às 8 da manhã !

Por sorte, embarco numa estação onde uma multidão desembarca. Todos saem e eu quase sempre consigo um lugar no trem!  Mas o conforto dura apenas alguns minutos, até a próxima estação.
Como estou no contra fluxo, o caminho entre a entrada da estação e a porta do meu trem é uma gincana diária. A sensação de milhares de pessoas vindo na direção contrária é sufocante.
A primeira etapa a ser vencida é conseguir passar, sem respirar, pela área de fumantes, que apesar de ser a céu aberto, é asfixiante (aqui em Tóquio existem diversas áreas para fumantes espalhadas pela cidade). São muitas pessoas, inclusive na chuva paradas ali. E outras tantas caminhando num ritmo alucinante.

Depois de levar muito empurrão, a estratégia para chegar até a catraca é subir os cotovelos e seguir em linha reta. No começo, tentava desviar de todo mundo, acabava sendo uma cena ridícula porque os japoneses não estão muito preocupados em te dar passagem, então demorava muito e sempre tomava uns encontrões. Agora eles que se assustam com minha determinação em passar. Desculpe, mas é o jeito!

A simples rotina de pegar o trem tem o seu lado cômico. Isso porque dá pra conhecer melhor o estilo moderno de vida dos japoneses. Na rotina da metrópole, o transporte parece um lugar estratégico para uma soneca, ou melhor, sono profundo mesmo. No meio da multidão, é impressionante o número de pessoas que esquecem de tudo e dormem pesado, ainda que desajeitadas. 
Não é surreal?
Ah! E não pense que a pessoa precisa estar sentada! Muitas dormem em pé.
Tenho a sensação que os trens de Tóquio funcionam como uma extensão da casa das pessoas. Tem mulheres se maquiando numa boa. Elas abrem o espelhinho, e, bem ao estilo Mary Poppins, começam a tirar tudo quanto é coisa da bolsa.

"Hora da base", depois vem lápis, curvex, rímel, batom ...

Os homens deixam as maletas num espaço que tem reservado acima. E nem se preocupam. Ninguém mexe no que é dos outros. Igualzinho ao Brasil ...
 
Tem estudantes fazendo lição de casa ...

Como disse, eles tem uma facilidade pra pegar no sono. Não acreditei nessa cena. Ela dormiu com a caneta na mão !
O que realmente incomoda é quando eles começam a pender a cabeça no meu ombro. Para um país sem muitas intimidades, é ainda mais inconveniente. O segredo é dar aquela levantadinha básica e rápida no ombro. É engraçado, eles acordam sem saber o que está acontecendo.
Nessas de dormir no vagão, muitos passam a estação onde deveriam descer. É comum ver os japoneses assustados, correndo pra retornar ao caminho perdido. Por isso, acho que minhas ombradas os ajudam a não perder a hora. Eu funciono praticamente como um despertador! Acho que vou começar a cobrar pelos serviços, até porque ainda não aprendi a relaxar e dormir no meio da confusão...

Este senhor achou que poderia me utilizar de travesseiro.
O lugar mais disputado do trem é a ponta. Tem encosto.

E o hábito começa desde cedo.
Ainda tem o pessoal mais tradicional, lendo um livro.
Mas na era tecnológica, criou-se a chamada geração "cabeça baixa". Todo mundo de olho no celular ou nos games portáteis, afinal, esta é a terra dos eletrônicos.

Uma coisa que me chamou muito a atenção quando cheguei são as japonesas com saias bem curtas andando tranquilamente nos trens e metrô. São muitas, mesmo em horário de pico. Os japoneses não parecem se importar muito. No Brasil, fariam a alegria de muitos homens. Mas aqui, se eles falarem alguma gracinha ou olharem insistentemente e a mulher se sentir incomodada, ela pode os denunciar para os seguranças da estação. Ouvi que os engraçadinhos teriam até que pagar uma multa. Então, as garotas esbanjam mesmo!

Não pense que o senhor atrás está de olho nela. Está dormindo, mesmo!


Embarcar num trem em Tóquio é uma viagem pelos hábitos japoneses, mas chegar ao destino final é, com certeza, um alívio! Agora é encarar mais um empurra-empurra até sair da estação ...  

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O outro lado da história ...

Um lugar caótico e paradisíaco ao mesmo tempo. O Blog da Mich desta vez não é no Japão, mas no país que se orgulha de ter derrotado o exército mais poderoso do mundo, o Vietnã!
Desembarquei em Ho Chi Minh, antiga Saigon, a maior cidade deste país. Logo de cara, o susto com o que se encontra nas ruas. São 6 milhões de habitantes, 5 milhões de motocicletas, poucos semáforos, muita confusão e barulho. Nunca vi um povo que usa tanto a buzina. A lei aqui é tipo "salve-se quem puder!".




O impacto é ainda maior para quem sai de Tóquio, que apesar de grande, é calma, como já mencionei num post anterior.
Em Ho Chi Minh (uma homenagem ao ex-revolucionário e estadista do país), as pessoas falam alto, sentam na calçada, ao lado de cachorros e muita sujeira. Mas confesso que estava com saudade de um pouco de bagunça.

Esta é a vista do meu quarto do Hotel. Cheguei à noite, por isso, quando acordei logo lembrei do Japão novamente, e já senti falta da organização nipônica.
No Vietnã é impossível não sentir os resquícios da guerra que durou quinze anos e acabou em 1975. Mas é bom estar preparado pra conhecer o outro lado dessa história. Para quem vive no ocidente, com tanta influência dos filmes e da cultura americana, essa é uma descoberta surpreendente.
Fui visitar uma floresta onde uma grande parte dos vietnamitas organizou a resistência (ou guerrilha, dependendo do ponto de vista) contra os americanos. O incrível é descobrir a rede de túneis que eles construíram. São mais de duzentos quilômetros embaixo da superfície. Lá dentro, eles armazenavam armas, cozinhavam, se escondiam, ou seja, praticamente viviam debaixo da terra. Os túneis ainda existem e o espaço é muito apertado. Bom para vietnamitas baixinhos, e péssimo para os americanos gigantes.


Os guerrilheiros construíram buracos como esse acima; a entrada ficava camuflada com folhas. Eles davam acesso aos túneis.


Além do mais, havia muitas armadilhas no meio da floresta. Incrível a criatividade deles
 Este formigueiro é falso, criado para disfarçar um buraco bem embaixo, por ali entrava ventilação nos túneis.
Os números acima mostram o tamanho da tragédia. Mas, a maior barbaridade talvez tenha sido o uso do chamado agente laranja, um produto químico devastador que os americanos jogavam na floresta para matar a vegetação e acabar com o fator surpresa dos guerrilheiros. O problema é que o agente laranja afeta e muito a vida humana...pior, durante 5 gerações consecutivas. Por isso, muitas crianças nascem deformadas no país. É assustador!
Apesar do passado de guerra, o Vietnã tem uma atmosfera alegre, inclusive para os turistas americanos. A comida é incrível e há muitos lugares para explorar, como o mercado flutuante no delta do Rio Mekong.
Esse mercado é praticamente para os nativos, os turistas apenas observam a venda. Os pequenos comerciantes chegam com seus barquinhos de longe, trazendo principalmente frutas. Lá ficam atracados por dias esperando acabar com toda a mercadoria.
Pelas margens, há várias pequenas fábricas de produtos típicos do país como tijolos, doces e bebidas.
O guia disse que esta bebida é boa para homens! Ainda bem pra mim ! Você tem coragem? Pinga de arroz com cobra e escorpião.
E onde está o paraíso?


Um deles fica em Nha Trang, no sudeste do país, banhado pelo mar da China.
Aqui, o principal a se fazer é relaxar !

Esta é a Tam Island à 7 minutos de Nha Trang. Todos os cenários são perfeitos.
 
O curioso é que o Vietnã tem muitas semelhanças com o Brasil de décadas atrás. Uma inflação alta, muita pobreza, frutas variadas e produtos primários para exportação. Um país de gente alegre, às vezes sofrida, que vive com a esperança de tempos melhores.
Enquanto isso, aproveitei a sensação de virar milionária !





 
E para isso não precisei mais do que 50 dólares!
Um dólar vale mais de vinte mil dongues. Parece gostoso ter tanto dinheiro no bolso, mas a carteira explode! Além do que, pagar mais de 100 mil por um jantar incomoda ...

domingo, 7 de agosto de 2011

Mantendo a forma à japonesa

Quantos japoneses gordos você conhece?
Aqui no Japão acho que vi uma ou duas pessoas obesas até hoje!
A alimentação à base de peixe pode até ajudar, mas não consigo me convencer que esta é a única razão. Em Tóquio, há restaurantes de todos os tipos, culinária internacional e, claro, até junk food. Os japoneses também comem (muita!) carne de porco, guloseimas e frituras.
A velha desculpa irritante de que "a genética favorece", neste caso, me parece uma boa explicação. Ou ... A malhação! E freqüentar uma academia aqui é uma aventura inesquecível.
O ancestral e o moderno se misturam numa simples sala de musculação. Com alguns aparelhos, eu nem me preocupo em contar as repetições do exercício. A máquina conta automaticamente! Inclusive o peso é controlado através de um botão. É só pressionar com o dedo para aumentar ou diminuir a carga.



Do lado esquerdo aparece a carga escolhida e do direito, as repetições.


A esteira parece normal, se não fosse um detalhe que faz toda a diferença!  Não basta saber a quantidade de calorias gastas, o monitor também mostra um desenho da comida que representa tudo o que já foi queimado. Simples assim, começa com uma bala, depois o café com leite, a banana, o sorvete ... tem até sushi (e é especificamente o de atum!). Cada novo desafio, maior a motivação. Quando aparece o “hambaga” (hambúrguer, em japonês), é uma vitória.

Repare no desenho de uma bala no meio do monitor, estava começando.

O problema é que, nessa academia, cada pessoa só pode usar a esteira por 30 minutos. E não tem como enganar. Os japoneses programaram o aparelho para desligar depois de meia hora. Para uma boa mente competidora (como a minha), isso é frustrante. Tô curiosa pra saber o que vem depois do hoto keiki (hot cake – ou  melhor, bolo quente), minha última conquista.


Agora vamos conhecer as atrações deste lugar incrível!

A aula de aeróbica!
Qualquer estrangeiro fica perdido!É impossível entender as instruções da professora. O resultado é, na melhor das hipóteses, ficar sempre um movimento atrás de todo mundo. Ahh! imitar os companheiros de aeróbica tira qualquer concentração. Só tem figura na sala. As imagens do clipe abaixo são um aperitivo do que eu vejo todas as semanas.
 

Esta um pouco pequeno, mas tem um homem na frente com uma espécie de colan e faixa na cabeça. Ele é o aluno mais assíduo dessa aula! Há também uma senhora com duas chuquinhas e casaco preto em pleno verão!

O mito de que treinar de moletom emagrece é levado a sério aqui e é muito comum.


Que calor! Estava 30 graus neste dia.
Alguns equipamentos são "de época", ou melhor, da época da minhas amáveis avós, Baba e Tita.


Como isso funciona mesmo?


Isto não é apenas um massageador dos pés, aqui eles até deitam para massagear as costas! No começo faz muitas cócegas, mas é bom! A verdade é que saio sempre dolorida...

Por fim, o incentivo para o treino. Uma mensagem feita artesanalmente pelos dedicados professores.


Yes, we can !

Olha o mural com as fotos dos “prof’s”. Gostei a da colagem na cartolina, me lembrou os trabalhos escolares que fazia na quarta série.

Este lugar é mesmo uma bela representação da imagem que tenho do Japão. Um país que impressiona pela tecnologia...ou pela falta dela. É um povo que nem precisa suar por horas e horas pra ficar em forma. Todo mundo magrinho...até demais. Mulher aqui não precisa ter muita bunda ou peito para fazer sucesso. E os meninos mais cobiçados são aqueles que no Brasil seriam chamados de “frangotes”. Beleza é mesmo uma questão de conceito.